9 de janeiro de 2014

O teto parecia ter desabado sobre minha cabeça, enquanto eu lutava para assimilar as palavras de mamãe na mente. Ela tinha dito aquilo mesmo, ou eu estava no meio de um pesadelo, prestes a acordar e ver que tudo isso não passava de um sonho ruim?

Lentamente a realidade me atingiu: eu estava noiva de Halford Volkmer, o único vampiro na face da terra de quem mais queria manter distância.

Não, não, não. Definitivamente não, isso não estava acontecendo comigo. De maneira alguma eu iria me casar com ele, principalmente ele. Isso só podia ser o apocalipse se aproximando, pois todos os meus piores pesadelos estavam se tornando realidade.

— Cathryn filha, acalme-se. — De algum lugar ao longe consegui ouvir a voz de mamãe, mas estava muito distante para que eu pudesse me ater a ela. — Você pode me ouvir? Respire calmamente e controle-se.

Fiz o que ela mandou repetidas vezes, até que consegui enxergar a sala ao meu redor e mamãe ao meu lado no sofá.

— Está mais calma agora? Eu não queria te assustar quando desse essa notícia, tinha planejado fazer as coisas com calma, mas você me apressou e levou por outro caminho.

Apenas concordei com a cabeça, enquanto ela continuava seu raciocínio, porque eu nem tinha percebido, mas há poucos instantes estava tendo um ataque de pânico e tinha medo de perder o controle outra vez.

— Você está calma o suficiente para conversarmos agora? Posso deixar para depois, mas temos que falar antes do jantar, pois o pedido formal será feito hoje.

E agora mais essa! Além de ter que lutar para processar essa notícia, ainda terei que aturar a comitiva real na minha casa para um jantar de noivado. Sim, esse é o início do apocalipse, pelo menos do meu próprio.

— Sim, podemos conversar — Respondi encontrando forças e coragem para isso em algum lugar dentro de mim. Foi preciso muita força de vontade para não gritar NÃO e sair correndo para meu quarto, mas agora que o choque inicial havia passado, queria saber por que eu fora a escolhida.

— Pois bem... — Ela suspirou, enquanto alinhava os fios que haviam se soltado do seu cabelo — Desta vez espere que eu termine de falar para dizer alguma coisa. Não me interrompa, está entendido?

Novamente concordei com um aceno de cabeça.

— Ótimo! Deixe-me voltar de onde havia parado da última vez, antes da sua interferência...



Pelo que entendi de tudo que ela falou, em algum grau bem distante, Halford e eu éramos parentes. A esposa do fundador do reino era da minha família, ou melhor dizendo, depois de anos ao lado do rei ela fugiu e constituiu outra família com um vampiro que havia conhecido em um de seus passeios para apreciar o campo nos arredores do castelo, — agora eu sabia de quem herdara essa paixão pela natureza.

Halford é o herdeiro legítimo, filho da linhagem real que se seguiu e eu descendo da família que ela formou quando fugiu. Então, quando o rei o comunicou sobre seu casamento, Halford prontamente me indicou como sua futura noiva e como somos descendentes de uma mesma linhagem sanguínea, o rei achou que seria uma boa ideia manter tudo em “família”.

“Finalmente iremos unir as duas partes desta família e torna-la uma só, como sempre deveria ter sido” — Palavras do rei Vicent Volkmer, segundo disse-me mamãe.

Isso de certa forma fazia sentido vendo por este lado e como Halford tinha uma queda por mim desde os 14 anos, também fazia sentido eu ter sido sua primeira sugestão. Fosse por gostar de mim ou não, ele também queria me mostrar uma coisa: que ele sempre conseguia o que queria, pois uma vez logo quando começamos a estudar me recusei a ficar com ele quando me pediu e ainda fui atrevida o suficiente para dizer-lhe que eu seria a única garota no reino que ele jamais teria. Agora ele iria me mostrar seu ponto e fazer-me sua esposa.

Só havia uma coisa que não fazia sentido para mim e que estava me inquietando: Por que mamãe concordou com isso?

— Tudo bem mãe, entendi as razões que levaram o rei me aceitar como esposa do seu filho e vir pedir-me em casamento. No entanto, há algo que não consigo entender, embora eu tenha tentado. Por que você concordou com isso, mesmo sabendo o quanto detesto Halford? É só isso que quero saber.

Os raios solares que entravam pela janela já haviam adquirido um tom rosado, alertando para o crepúsculo e com isso dizendo que a noite cairia em breve. Não tinha chance alguma de haver jantar de noivado hoje sem que eu obtivesse minhas respostas antes. Mamãe parecia exausta, como se estivesse travando uma guerra interna, e embora estivesse curiosa, resolvi respeitar seu tempo.

Depois do que pareceram ser os segundos mais angustiantes da minha vida, ela suspirou e finalmente falou:

— Filha, só quero que entenda que tudo que fiz foi para o seu bem. Os pais sempre fazem o que é melhor para seus filhos, mesmo que estes não entendam suas razões. Sei que agora pode não gostar de Halford, mas com o tempo aprenderá a gostar dele, e se lhe der uma oportunidade verá o garoto especial que ele é. Não quero que fique com raiva de mim por ter tomado esta decisão quanto ao seu futuro, e não pense também que foi um ato impensado. Depois que Vicent me procurou, conversei com seu pai e ele teve a mesma opinião que eu, e que se você estava tão indecisa sobre qual profissão seguir, o mais provável é que não escolheria nenhuma de que gostasse, já que a formatura está tão próxima. Então que solução melhor para este problema do que casar-lhe com o filho do rei para ser a futura rainha? Era a solução perfeita, não acha?

Toda esta conversa não tinha ajudado em nada para melhorar meu humor, ao contrário, estava mil vezes pior e agora eu teria que culpar a minha maldita indecisão por estar presa nesse casamento arranjado.

— Não acho não, por mim ficar fazendo qualquer coisa que não gosto para o resto da vida seria melhor do que me casar com ele. Nunca vou amá-lo, está ouvindo? NUNCA! — Saí correndo em direção às escadas, fazendo muito barulho enquanto batia a porta do meu quarto com força e me jogava na cama acordando vovó no processo, que já resmungava atrás de sua refeição. Mamãe estava lá embaixo, ela que se virasse com isso.

*** *** *** *** *** ***

Tudo estava extremamente cuidado, em seus mínimos detalhes para que nada saísse errado, quando o principal não estava certo: eu.

Este era supostamente o meu jantar de noivado, só que ainda não conseguia me acostumar a essa ideia, principalmente quando o noivo era quem ele era: o vampiro mais chato do universo, super convencido e futuro governante, e isso era o mínimo que eu poderia usar para descrever Halford Volkmer, meu noivo. Ugh!

Olhei pela milionésima vez para o espelho, só para checar se a imagem refletida era mesmo a minha, porque não parecia em nada comigo. Mamãe deixou-me processar tudo durante o resto da tarde trancada no quarto, antes de vir verificar se eu já estava pronta e se encarregou de me arrumar, já que não fiz nenhum esforço voluntário para isto, porque apesar de não ter aceitado a situação em que me encontrava, não podia fazer nada para revertê-la. 

O resultado? Tinha que admitir que não estava nada mal, considerando que não facilitei, e agora estava
usando um vestido longo com decote quadrado e mangas compridas preto com detalhe frontal vermelho com flores negras. Eu parecia uma verdadeira princesa vampira, não que me sentisse assim, mas era isso que meu exterior aparentava, porque como se não bastasse o vestido mamãe também fez questão de prender meu longo cabelo negro em um coque frouxo, deixando alguns fios soltos. Por que ela não adicionou uma coroa para completar sua obra prima?

Estava me contorcendo em meu traje na sala quando ouvi a batida da clave da porta da frente, isso só podia significar uma coisa, eles haviam chegado. Será que ainda dava tempo de me esconder se eu corresse?

E a resposta para essa pergunta era... Não. A porta tinha acabado de ser aberta pelo meu muito sorridente pai. Aparentemente ele estava mais feliz do que mamãe com esse casamento. Que sorte a minha!

Afundei ainda mais no sofá, só para ser cutucada por uma não tão sutil mãe: — O que está fazendo aí sentada? Vá receber seu noivo. — Ela sussurrou, provavelmente para que os convidados não a ouvissem.

— Mãe... — Eu gemi não me movendo um centímetro do lugar onde estava, mas bastou um olhar para seu rosto para que eu me levantasse e caminhasse em direção à porta, porque ela me deu um daqueles olhares da morte e se não fizesse o que estava mandando ela iria me ensinar uma lição mais tarde, bem mais tarde naquela noite. Era melhor não arriscar. 

Assim que me viu, o sorriso de Halford aumentou e seus olhos se alargaram quando fez a viagem e ida e volta pelo meu corpo, pelo menos umas duas vezes. Imbecil!

— Cathryn — Cumprimentou-me pegando minha mão e dando-lhe um leve beijo, como um verdadeiro cavalheiro. O gesto era educado e típico para nossos costumes, mas vindo de Halford só fez com que eu quisesse sair correndo para lavar minha mão. Como é que eu poderia me casar com ele desse jeito?

A resposta era simples: de jeito nenhum.

— Halford — Forcei-me a dizer e até arrisquei um falso sorriso para ele e sua família.

Fiquei de lado para que pudessem entrar e aproveitei para analisa-los, a Sra. Volkmer era mesmo digna de
ser uma rainha e não precisava se esforçar muito para isso, seu vestido era todo preto, e a longa saia era de babados com um detalhe intricado com laços no busto. Sobre Halford e seu pai não havia muito que eu pudesse comentar, o visual masculino não variava muito como o das mulheres.

Durante toda a noite senti como se fosse apenas uma espectadora da minha própria vida, me comportei como era exigido, falei nos momentos certos, o que era certo e não decepcionei nenhum dos meus pais, mas decepcionei a mim mesma, agindo como um robô programado, pois era isto que você se tornava quando agia de acordo com o que era esperado que fizesse e não do modo como queria.

O jantar havia saído exatamente como fora planejado e o pedido oficializado, agora que já tinha feito o meu papel nessa encenação, só queria uma coisa: ir dormir. Já estava me levantando do sofá onde fiquei sentada boa parte da noite após comermos, quando Halford falou, interrompendo meus planos: — Que tal darmos uma volta Cathy? Ainda não tivemos a oportunidade de conversar a sós depois do noivado.

Estava prestes a responder um belo não quando mamãe se adiantou e respondeu por mim: — Ótima ideia Halford, vocês precisam mesmo conversar, têm muito que assimilar. Por que não vão dar uma volta no jardim? — Sério, o que eu havia feito para merecer isso? Não bastasse o jantar e o noivado, ela ainda dar uma de alcoviteira?

— Bem pensado Grace. Obrigado pela dica. — Ele respondeu fazendo uma pequena reverência — Vamos Cathy? — Perguntou oferecendo-me seu braço, que relutantemente aceitei, porque não queria fazer uma cena na frente de nossos pais.

Quando já estávamos do lado de fora, libertei-me dele e coloquei alguma distância entre nós. Quanto mais longe eu ficasse dele, melhoria seria para minha sanidade mental.

— Então Halford, você vai mesmo se casar, não é? Quem diria! — Provoquei enquanto andava ao redor das flores do jardim — Quando você me disse hoje de manhã ainda desconfiei um pouco, mas depois que explicou o motivo, fez sentido. Eu só não imaginava quem era sua noiva, e a julgar pela sua escolha, posso dizer que não poderia ter sido pior. Agora eu gostaria de saber por que fez esta escolha em especial, quer dizer, você tem todas aquelas garotas morrendo de amores por você, muito embora eu não saiba o que elas veem, então por que eu? — Foi necessária cada grama de paciência que eu possuía para não perder o controle e gritar como ele com eu queria originalmente, porque se fizesse isso certamente nossos pais ouviriam e a última coisa que eu queria no momento era chatear a minha mãe.

Ele riu, uma risada baixa, mas mesmo assim com humor — Você não imagina mesmo o motivo, Cathryn? Depois de todos esses anos eu pensei que você soubesse, porque não houve um único dia em que não demonstrasse como me sinto em relação a você.

Certo, ele tinha um ponto. Desde que tínhamos idade suficiente Halford flertava comigo e ultimamente ele estava usando todas as suas armas.

— Até entendo essa parte, você gosta de mim. Mas para casar é preciso muito mais do que apenas que um dos lados goste, tem que ser mútuo e não é novidade que eu NÃO gosto de você — Fiz questão de enfatizar o não para que ele entendesse direito — Então. Por que. Eu?

Não se abalando com meu tom enfurecido, ele respondeu calmamente:

— Porque eu sei que vou fazer você gostar de mim. A questão não é se e sim quando. Foi por isso que a escolhi. Nenhuma daquelas garotas me interessa, com elas posso ter o que quiser fácil, fácil, mas você nunca facilitou nada comigo e isso me encanta. Um homem não quer uma mulher fácil para casar, quer uma pela qual tenha que lutar e tudo isso eu encontro em você. Elas não gostam de mim de verdade, mas sim o fato de quem sou, você, no entanto, não se importa se eu sou filho do rei para dizer o que pensa de mim na minha cara. É isso que te faz especial.

Eu não tinha nada o que dizer quanto a isto, pela primeira vez em anos Halford havia me deixado sem palavras. E agora como eu lidaria com isso?

Remexi-me desconfortavelmente olhando para minha casa, enquanto evitava encará-lo.

— Então... — Disse virando-me, a intensidade em seus olhos verde-mar fazendo com que me arrependesse disso — Acho que você deixou bem claro seus sentimentos por mim. Não quero dizer nada desagradável para não magoá-lo, pelo menos não hoje, mas gostaria de pedir-lhe algo, claro, se não for exigir demais.

Pegando minhas mãos nas suas, olhou-me com os olhos tenros — Peça o que quiser e é seu — Ele sorriu fazendo suas covinhas aparecerem, isso deixava as meninas loucas, mas não funcionava comigo.

— Bem eu gostaria que você mantivesse minha identidade em segredo, pode dizer as pessoas que está noivo, só por favor, não revele com quem — Sua expressão alegre foi tornando-se amarga — É só por um tempo Halford, só até eu me acostumar com a ideia. Pense no lado positivo, todos vão ficar loucos querendo saber quem é e isso será boa publicidade para o reino, todos aqui amam um mistério.

Ele suspirou, mas assentiu ligeiramente — Tudo bem, isso não é o que eu quero, mas vou fazer por você. Conversarei hoje mesmo com meus pais sobre isto para que eles mantenham segredo.

— Obrigada, você não tem ideia do quanto me tranquiliza saber que está de acordo com o que pedi. Só preciso de um tempo, ok? Para digerir tudo e me acostumar com a ideia — E para arrumar um jeito de me livrar deste compromisso antes que seja tarde demais.

Olhei de relance para minha casa e vi que nossos pais nos observando da janela, como se fossemos seu melhor entretenimento. Halford seguiu meu olhar e o mesmo sorriso de antes apareceu em seus lábios.

— Que tal darmos a eles o show completo? — Disse inclinando-se para me beijar.

Afastei-me rapidamente e dei-lhe uma tapa no ombro — Não seja abusado!

Ele riu dando de ombros e não pude deixar de acompanhá-lo enquanto voltávamos para casa.

*** *** *** *** *** ***

A comitiva real não permaneceu muito tempo depois de nosso retorno, e assim que papai fechou a porta da frente subi as escadas correndo para meu quarto, claro, na medida do possível que um vestido longo permitia.

Andando pelo corredor, ao passar pela porta trancada do quarto de vovó lembrei-me que ela não participara do jantar. Estava tão concentrada nessa história de noivado que acabei me esquecendo dela, que após pedir sua comida mais cedo não havia mais aparecido. 

Mamãe mencionou algo sobre ela estar cansada devido sua idade e pedir desculpas por não descer para o jantar, mas eu sabia que não era isto. Vovó não estava cansada coisa alguma, pois ninguém estaria depois de ter passado o dia inteiro dormindo, não importa que idade tivesse.

Podia não ter certeza, mas tinha uma forte intuição de que ela não estava de acordo com a decisão que mamãe havia tomado sobre meu futuro e estava mostrando seu desagrado trancando-se no quarto e afastando-se de todos nós. Eu tinha que me agarrar a qualquer esperança que houvesse de me livrar desse compromisso e acho que tinha acabado de encontrar minha aliada. 

Entrei no meu quarto e fiquei observando o teto enquanto o sono não vinha deitada na cama, quando um pensamento ocorreu-me, algo que já tinha passado pela minha cabeça antes, mas que havia ignorado.

Não importa por quanto tempo tentamos fugir, uma hora cederemos a nossa verdadeira natureza. Não havia notado que estava fugindo de mim mesma até mais cedo esta tarde quando fui informada sobre qual seria meu destino daqui para frente.

Foi nesse momento que percebi porque nunca tinha me interessado por nenhuma das carreiras disponíveis no reino. Embora mamãe jamais aprovasse minha escolha, era assim que queria viver e isso não incluía uma profissão qualquer para passar meus anos ou um casamento arranjado com um vampiro que detestava.

Eu queria ser uma vampira caçadora, sair dos domínios do reino e entrar no mundo humano, caça-los para me alimentar de sangue fresco e se ainda me deixassem voltar, reabastecer a adega com algo mais decente do que sangue de milhares de anos atrás.

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